A estabilidade econômica e os marcos regulatórios criaram uma década de ouro para a arquitetura e construção entre os anos de 2004 a 2014. O controle da inflação, queda das taxas de juros e aumento nos níveis de emprego (1994), somados à criação do patrimônio de afetação, da alienação fiduciária e uso do depósito compulsório no crédito habitacional (2004), geraram o ecossistema ideal para o crescimento do segmento.
Em menos de 20 anos, migramos de modelo fechado e arcaico de projeto, financiamento e construção para um grau superior de atuação. O “boom” imobiliário garantiu altas margens e demandas além da capacidade de atendimento, onde a preocupação com qualidade e performance não necessariamente foram as palavras de ordem.
Com o fim abrupto do sonho em 2015, problemas e patologias de diversas naturezas vieram à tona em todos os elos da cadeia produtiva, arrolando investidores, projetistas, construtores e fabricantes em contraditórios, processos e prejuízos. Impossível prever como será o futuro, mas, sendo óbvio, temos convicção que o próximo ciclo de crescimento será muito diferente do anterior e sinais apontam para uma nova ordem no mercado.
No campo do crédito, surgem modalidades de Investimentos de longo prazo – como as Letras Imobiliárias Garantidas (LIGs) – que unem-se às já existentes Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI). Certificações nacionais e internacionais de qualidade tornam-se obrigatórias em processos cada vez mais rigorosos de contratação de bens e serviços, exigindo conformidade em processos, produtos e desempenho dos sistemas construtivos.
A sustentabilidade está na agenda também dos agentes financiadores, bem como em novas tecnologias de projeto e execução. O aumento da longevidade cria responsabilidades e oportunidades: em 30 anos teremos mais pessoas acima de 59 anos do que abaixo de 29.
Com cerca de 25% da população com a mobilidade reduzida, acessibilidade e inclusão nortearão cada vez mais as soluções arquitetônicas. Instituições públicas e privadas trabalham na Política de Ciência, Tecnologia & Inovação, dividida em quatro estratégias de desenvolvimento: Produtividade, Desempenho, Sustentabilidade e Construção 4.0.
O próximo ciclo positivo do setor trará para o jogo um financiador imobiliário que exigirá padrões de performance rigorosamente auditados. Modelos de “funding” de longo prazo exigirão projetos, materiais e sistemas que garantam a durabilidade e eficiência dos ativos imobiliários por décadas, para dar lastro real às novas operações.
Isso exigirá de arquitetos, construtores e fabricantes de materiais padrões superiores de atuação, responsabilidade profissional e civil. Quem estiver preparado para esse momento será protagonista de uma nova era de pujança, que a qualquer momento virá.
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Lauro Andrade é empresário, administrador com mestrado em gestão e especialista de mercado nos segmentos de arquitetura, construção, decoração e design. É idealizador e realizador do DW! SÃO PAULO DESIGN WEEKEND e sócio-diretor da feira HIGH DESIGN – HOME & OFFICE EXPO e SUMMIT PROMO Eventos.